Por que as moradias em Cuba estão tão deterioradas e os carros são tão antigos? Existe internet na ilha? Por que tantos cubanos emigram? Por que existiram duas moedas e como está o cenário econômico do país? Há racismo e machismo em Cuba? E quanto à desigualdade social? Qual a situação da comunidade LGBTQIA+? Quais dificuldades o país enfrenta desde a morte de Fidel Castro?
Todo mundo que estuda Cuba já teve de se debruçar sobre o conjunto de contradições que cada uma dessas perguntas suscita. Para o pensamento conservador, da extrema direita ao liberalismo democrático, só há uma explicação pueril: o socialismo falhou. Resta ao militante de esquerda ou aos estudiosos do tema contrapor essa simplificação com uma argumentação que, apesar de calcada na realidade, tornou-se um lugar-comum: a evocação da eficácia dos sistemas de saúde e educação gratuitos, que rendem à ilha ótimas posições nos rankings mundiais, a qualidade da pesquisa farmacêutica e a persistência do bloqueio econômico e financeiro imposto ilegalmente pelos Estados Unidos contra o país. Esses dois polos, embora desiguais no método e na orientação política, cristalizam a discussão acerca de Cuba aplainando suas complexidades, o que bloqueia as possibilidades de construção de conhecimento e reflexão.
Nosso projeto nasce de uma tentativa engajada de enfrentar esse aplainamento. [...] Para transmitir essas tensões, convocamos vozes cubanas, mas também de outros lugares da América Latina que, de diferentes maneiras, parecem exigir um acerto de contas com a utopia que a revolução encarna. Os textos escolhidos são plurais e não refletem necessariamente as opiniões dos organizadores. No seu conjunto, esta investigação sobre uma Cuba contemporânea, em que carros dos anos 1950 rodam com aplicativos de 2020, convida a repensar o lugar que a revolução ocupa no imaginário daqueles que lutam pela emancipação social. E, talvez, a repensar o lugar que a própria noção de revolução ocupará no imaginário político do século XXI.
- Os organizadores, na Introdução