Interrogando a possibilidade da transmissão da Psicanálise no campo psiquiátrico e da saúde mental, tal como o vemos hoje, dediquei-me especialmente a examinar o clássico dispositivo psiquiátrico da Apresentação de Pacientes. De¿nido pela entrevista com o paciente como dispositivo clínico e de ensino, caracteriza-se pela presença do paciente, do entrevistador e do público. Sua renovação, realizada por Jacques Lacan, o transformou e relançou como um instrumento de trabalho pautado na ética psicanalítica.
Mais do que nunca, parece necessário zelar e cuidar do que faz memória, do que faz história, e para tal, sublinho o percurso histórico da Psicanálise no Hospital Psiquiátrico de Jurujuba, na cidade de Niterói-RJ. Essa escolha se justi¿ca pelo que lá se construiu, desde sua fundação até os dias de hoje, como um lugar de endereçamento, seja pelos prössionais e estudantes de psiquiatria e saúde mental, com tantos pedidos de formação, ou pelos pacientes, na demanda de acolhimento e tratamento.
Diante da hegemônica prática medicamentosa nas intervenções terapêuticas aos sintomas e ao sofrimento dos pacientes, mesmo no campo da saúde mental, observamos uma tendência à drástica redução de uma clínica apoiada na palavra em transferência, colocando em risco a possibilidade mesma de que eles possam exercer sua cidadania dentro de um laço necessário para sua sustentação. Daí a relevância de investigar as condições, os dispositivos de possibilidade para uma (re)colocação da clínica em causa suportada pela transferência.
De que se trata uma clínica em que se considere o sujeito? Essa questão não é nova, e encontra no livro uma possibilidade de examinarmos uma aposta, por meio do dispositivo das Apresentações Clínica de Pacientes. Um dispositivo que convida pacientes e clínicos a um trabalho subjetivo que permita um terreno mais sólido para as ações necessárias às decisões clínicas, em sua dimensão individual e social.