Este vigoroso e atual romance-denúncia, escrito em linguagem que capta não só o vocabulário como a poesia da fala indígena, recupera personagens e dá sequência a episódios de O garanhão das praias, mostrando o declínio da raça e da cultura dos karajás do Araguaia, depois da aproximação dos brancos, espoliadores de terras e degradadores das tradições.
Mostrado, de início, o apogeu e pureza dos karajás, o romance transforma Kuryala, a personagem-título, num símbolo da raça. Escolhido, entre os demais jovens, para ser o futuro chefe da aldeia, Kuryala estagia na casa das máscaras sagradas e conhece todos os ritos de passagem da puberdade à juventude, conforme a tradição da tribo. Adulto, casa-se com Akurriro e torna-se capitão, revelando-se forte, sábio e justo. A fatalidade, porém, na forma da cegueira advinda de uma catarata que os brancos se negam a operar, atinge-o e obriga-o a renunciar à chefia dos seus. A partir desse momento, a decadência de Kuryala caminha paralelamente à degradação de sua raça, à medida que os brancos avançam, apoderando-se das terras indígenas e trazendo vícios e doenças até então desconhecidos. A região é abandonada pelos sucessivos governos, desde o de Getúlio Vargas até o de Juscelino Kubitschek, presidentes que visitam o Araguaia, mas que não assumem de fato a sua realidade.